Construir canas é para mim muito mais do que um meio de subsistência. O que faço, faço com paixão. Sou um daqueles felizardos que se levanta encantado por serem novamente horas de ir trabalhar.
Aliado a este privilégio está um outro.
Construir uma cana personalizada implica uma aproximação ao cliente. Procuro saber o que o motiva para fazer determinadas escolhas, tento perceber com quem estou a lidar para assim melhor poder direccionar o meu trabalho de forma a que a sua satisfação seja plena. Ou quase.
Essa aproximação proporciona-me também um melhor conhecimento das pessoas e a percepção que algumas, pela história de vida que as acompanha, são fascinantes.
É o que aconteceu com o Fernando Soeiro.
Apesar de já conhecer o Fernando há algum tempo e de ter ouvido aventuras suas passadas em África, outras tantas na Madeira e muitas nas terras de Sua Majestade, com a encomenda de uma cana de Surfcasting e com o habitual entusiasmo que ele coloca em tudo o que faz apesar dos seus 64 anos, houve inevitavelmente a tal aproximação.
As histórias de pesca são uma constante, principalmente as que envolvem o Big Game (a sua grande paixão) e tudo o que o rodeia. Uma paixão que o leva ao extremo de possuir uma colecção de canas, carretos e amostras para esta disciplina que é, no mínimo, impressionante.
Após expressar a sua vontade de adquirir uma das minhas canas, decidimos muito facilmente como iria ser a sua primeira (já estou a tratar da segunda...) Made in Portugal: cana de Surfcasting, com um blank de 4,20m cor de vinho, passadores Fuji K, porta carretos em alumínio e enrolamentos em prata e preto. O gráfico com um robalo e o seu nome. Apenas uma exigência fora do normal, a minha assinatura tinha que estar presente na cana. Simples!
Aparentemente.
Onde vou eu encontrar um blank cor de vinho?
Depois de consultar todos os possíveis fornecedores de blanks deste género, encontrei o que pretendia mas em cinzento. Com o tamanho certo e com uma ponteira enxertada com carbono maciço. Já vos mostro como ficou.
Desta vez escolhi para o batente uma peça em alumínio na sua cor natural, ornamentada com dois enrolamentos em prata, preto e cor de vinho. No meio deles a minha assinatura. O cabo foi todo forrado com manga retráctil com um enrolamento em diamante por baixo.
Porta carretos de alumínio, emoldurado por duas peças do mesmo material e pelos respectivos enrolamentos.
O gráfico desta vez é bem simples. Um robalo, o nome do cliente sublinhado por uma pequena onda de chapa e os habituais logos e especificações técnicas.
Os encaixes de espigão, como eu entendo serem melhores e mais eficazes para as performances das canas, e os respectivos reforços feitos com enrolamentos. Na segunda foto, é visível a bonita cor de vinho com que pintei o blank.
Os elegantes Fuji K, com um difícil enrolamento pela quantidade de pequenas listas com poucas voltas de linha, completam esta simples mas elegante cana.
Já percebi que há canas que não gostam de ser fotografadas e esta foi a mais difícil até agora. Envergonhada ao ponto de me fazer repetir por 5 vezes a sessão fotográfica e mesmo assim não fiquei satisfeito.
Agora resta-me cumprir a promessa que fiz ao Fernando: temos que ir pescar para estrear a cana antes de ele a retirar para o seio da sua colecção.
Hoje entreguei mais duas das minhas meninas. Clientes satisfeitos com duas canas “deliciosas”.
Estranho adjectivo para uma cana? Em breve vão perceber.