domingo, 24 de janeiro de 2010

Winnie the Pooh ao estilo das Made in Portugal

 

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Por esta altura já está a perguntar o que é que o Winnie the Pooh tem a ver com as Made in Portugal! Tudo e nada.

Esta é uma das vantagens das canas personalizadas: transformam um objecto, que não raras vezes tratamos mal e de uma forma descuidada, em algo que vamos cuidar e guardar pois é uma peça única. É só sua.

Assim surge o Winnie the Pooh.

Quando chegou a hora de colocar um nome no barco, por causa da adoração que os filhos tinham pelo urso laranja, o Vasco baptizou-o de Pooh.

Chegada também a hora do baptismo da sua Made in Portugal o nome escolhido foi o mesmo. E é aqui que o Winnie tem tudo a ver com as Made in Portugal.

Confesso que me assustou um pouco fabricar uma cana com um urso. Fiquei um pouco atrapalhado em relação à forma de introduzir o boneco e ao mesmo tempo fazer uma cana bonita e dentro das cores que o Vasco queria na cana: verde e outra à minha escolha nos enrolamentos.

A solução que encontrei foi não usar o verde. Apenas usei a outra. E em boa hora o fiz.

A pedido, a cana tem 2,90m com três ponteiras (duas em carbono e uma em fibra de vidro). O “blank” como não podia deixar de ser é em conolon nacional.

O preto e o dourado foram as cores escolhidas.

Na extremidade da cana coloquei um contrapeso em alumínio (a pedido do cliente) que tapei com um enrolamento em linha metalizada preta com algumas riscas douradas e o logo da 7even.

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Para o porta carretos escolhi um Fuji Heavy Duty DPSH que tem como característica não ter qualquer peça metálica. Os encaixes para o carreto são feitos em grafite reforçada. Corrosão não entra!

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No cabo o habitual logo da 7even, a bandeira nacional, as indicações técnicas, os nomes do cliente (e amigo), do respectivo barco e a estrela da companhia, Winnie the Pooh. À pesca!

O que eu tinha receio de não conseguir incorporar na cana acabou por ser o elo de ligação e a inspiração para uma das canas mais bonitas que fiz até hoje.

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Quanto aos passadores a escolha também recaiu na Fuji. Para os enrolamentos, linha metalizada preta com uma pequena risca em cada topo, de dourado.

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As ponteiras, duas em carbono e uma em fibra de vidro, todas com passadores Fuji e com enrolamentos também em preto e dourado. Para sinalizar as pontas optei por colocar pequenas tiras de dourado em lugar do habitual rosa e verde fluorescente. Depois conto se é igualmente eficaz. A mim pareceu-me que sim e mais em harmonia com o resto da cana.

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E assim fica apresentada mais uma Made in Portugal.

Com o avançar da sua produção e do meu aperfeiçoamento técnico tem-se agravado aquilo que sinto desde que as comecei a fabricar: cada vez me custa mais entregar as minhas canas a quem as compra.

Cada uma delas representa muitas horas de trabalho e dedicação. São testemunhas da minha evolução.

Estou a pensar seriamente em criar uma ficha de revisões mensais e respectiva inspecção. Riscos e maus tratos não vão ser admitidos.

Como é óbvio estou a brincar. Mas não seria de todo mal pensado…

A próxima já está quase pronta e também não está nada mal. Digo eu…

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Canas nacionais – teste de levantamento

 2,260kg - levantamento

Desde que comecei a construir canas com “blanks” nacionais fiquei curioso acerca das suas reais potencialidades.

Resolvi por isso fazer-lhes uns testes de levantamento.

Deixem-me dizer-vos que nunca percebi bem qual a utilidade de tais testes. Fisicamente é virtualmente impossível um homem normal levantar um peixe acima dos 2 ou 3 kg e içá-lo para bordo de um barco ou para cima de uma muralha ou pedra onde esteja a pescar. Mas deixei-me levar pelo entusiasmo e coloquei uma das minhas meninas à prova. E que prova!

No penúltimo dia de Dezembro, aproveitando o mau tempo e alguma ressaca provocada pela ausência de pesca, resolvi testar até aos limites uma destas canas. Escolhi uma de 2,40m.

Passadores colocados de forma provisória (com fita adesiva) assim como o porta carretos, o encaixe solto sem estar colado e uma ponteira de fibra de vidro também improvisada. Se a coisa corresse mal pouparia assim umas horas de trabalho.

Para testemunhar os testes aproveitei a presença do Humberto e do Ernesto que por aqui tinham passado para matar tempo e sonhar com as pescarias que estavam para vir. O Humberto acabou por ser o fotógrafo de serviço.

Iniciei a série com 2,250kg. Achei bastante satisfatório mas muito aquém do que suporta tal era a facilidade com que o fazia. A foto de abertura ilustra isso mesmo.

Feito o primeiro levantamento com muita facilidade, a fazer lembrar os Halterofilistas nos Jogos Olímpicos que levantam sempre o primeiro peso sem grande esforço , resolvi começar a tornar as coisas mais interessantes: 3,822kg.

“É muito peso” comentava o Humberto com alguma preocupação. Não importava. O objectivo era chegar ao limite.

E este ainda não seria o seu limite. Mais uma vez e com relativa facilidade a Made in Portugal superou a prova.

Por questões de segurança a partir deste levantamento usei uns óculos. Quando se parte uma cana que está sob uma tensão tão grande, existe uma forte possibilidade de haver projecção de pequenos pedaços de fibra que podem causar ferimentos.

As minhas testemunhas estavam a ficar surpreendidas com a performance desta minha Made in Portugal.

A próxima etapa levou-nos até aos 5,015kg que estão ilustrados na foto seguinte.

5,015 - foto da balança

“Desta é que parte!”, palpitou o Humberto. E partiu. A linha! O 0,40mm já vincado pelos testes anteriores não resistiu ao esforço. Coloquei no carreto alguns metros de 0,70mm para não ter mais problemas.

Comecei por tentar levantar uma segunda vez o mesmo peso com os pés no chão mas logo percebi que já não tinha braços suficientemente longos para o fazer. Subi para uma cadeira. E adivinhem… Sem qualquer problema! Nem pareciam 5 kg. Para a cana, porque a mim já me começavam a tremer os braços.

5,015 kg - foto levantamento

Não me dei por satisfeito. Queria realmente atestar as reais  qualidades halterofilisticas da cana. Mais chumbo. 

Com mais 1,047kg perfazia agora um total de 6,062kg. Um peso de respeito para qualquer cana.

E esta realmente é uma cana que quer impor respeito! Sem apresentar qualquer indício de estar prestes a ceder, os 6 kg também não foram problema.

Tudo o que viesse a partir de agora já seria excepcional!

Os meus companheiros de teste acharam que já chegava. E de facto levantar 6 kg em seco equivale à luta dentro de água de um peixe de grande porte. Resistência mais que suficiente para combater com a grande maioria dos exemplares que se podem capturar nas nossas águas.

Sou por natureza impulsivo nas minhas decisões. E nesta ocasião não fui contra essa tendência!

Ao peso anterior juntei mais uma chumbada de  0,976 kg perfazendo um total de 7,038 kg. Seria o último teste.

7,038 kg - balança

Se há seis meses atrás alguém me dissesse que havia uma cana para pesca embarcada com uma maravilhosa acção parabólica progressiva, com três ponteiras, bons acabamentos, fabricada em Portugal e que levantava 7 kg, provavelmente começaria a rir. Mas esta cana existe e levanta realmente 7,038 kg, para ser mais preciso.

7,038 kg - levantamento

Fiquei com a certeza que ainda levantaria mais peso. Mas para quê? Os braços já me tremiam muito e tinha provado o que queria: também na pesca “o que é nacional é bom”!

Provavelmente nunca virei a ser um grande fabricante de canas, com uma produção e preços que possam fazer frente ao que vem lá de fora. Provavelmente até levará muito tempo para que algumas mentalidades se libertem de  preconceitos e apreciem as qualidades daquilo que faço. Mas uma coisa é certa: vou continuar sempre a tentar construir grandes canas. Made in Portugal, claro.